quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

6 meses


Há seis meses, saí de casa e iniciei a viagem.
Chorei as minhas poucas lágrimas de saudade antecipada,
gravei na memória o calor dos abraços, ignorei os receios,
esqueci a dúvida numa gaveta do meu quarto.
Mas na mala de vinte quilos veio,
sem que eu soubesse mas sob suspeita,
bem disfarçada entre roupas e livros, a solidão.
Chegou engelhada, sofreu os amassos do tempo,
mas logo depois sentiu-se em casa.
Cresceu-lhe o cabelo, ganhou o peso das incertezas.
Eu fiz-lhe festas, dei-lhe colo,
trouxe-a comigo na mochila de todos os dias.
Passeamo-nos juntas pelos becos, pátios e ruas de nomes ingénuos
à procura de olhares que objectivamente
caibam nas nossas objectivas,
à espera da contra-luz que nos mude as ideias.
Contamos sincronizadas os minutos embaciados do tempo contado,
sintonizamos frequências singulares.
Questionamos a estranheza das coisas,
surpreendemo-nos com a sua fragilidade e inconstância.
Caminhamos com passos esperançosos os caminhos até casa,
esperançadas de encontrar no correio
um alento para os passos do outro dia.
Se não, adormecemos e despertamos as vezes bastantes,
até ter outra vez a certeza.
Sem remordimento nem pena, sem desgosto ou amargura.
Vou levá-la comigo nas malas de todas as viagens,
a pesar-me mais no peito do que nos braços,
nos vagares de qualquer regresso a um sítio qualquer.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Bocadinhos de texto: silêncio e tanta gente



"Silêncio e tanta gente"

Maria Guinot

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
Ou um grito
Que nasce em qualquer lugar
Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito
Ou sou uma pedra
De um lugar onde não estou
Às vezes sou também
O tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar
Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão
Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou um grito
De um amor por acontecer
Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história d'aquilo que sou.

Onde estavas em 1984? Esta é a letra da canção portuguesa no Festival da Eurovisão desse ano, no tempo em que o Festival da Eurovisão era um grande acontecimento para crianças como eu. Obviamente não me lembrava da música, mas fui rebuscar a ideia às reminiscências publicadas no blogue amigo das Vozes Femininas, apenas porque a Maria Guinot escreveu palavras que hoje me parecem verdadeiras, que hoje me parecem minhas, que hoje senti. Não são orientais, é certo, mas a saudade anda comigo no Oriente, desorienta-me por instantes para me obrigar a encontrar.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Música nos intervalos

O meu primeiro
CD de música chinesa:
Wang Juan 王娟,
voz feminina folk,
"In a distance".
Bons sons!



quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Cinema nos intervalos

As minhas férias acabaram, o dolce far niente também. Enquanto não arranjo coragem e tempo para regressar aos 100 (que por esta altura já são mais de 120) dias na minha rua para a parte 3 das minhas deambulações, deixo uma amostra dos filmes da minha vida... nas últimas semanas. Ver filmes foi uma das principais actividades das férias, apesar de só um ser chinês (e eu devia ter estado a praticar chinês, bem sei).

Deixo 4: um filme que vi no cinema em Hong Kong, um que vi no cinema em Macau, dois que fazem parte da pilha de DVDs emprestados que fui vendo em noites livres, enquanto as noites iam arrefecendo e o enroscamento no sofá e as chávenas de chá sabiam cada vez melhor.

1. Forever Enthralled

De Chen Kaige (陈凯歌), o realizador de "Adeus minha concubina" (霸王别姬), sobre Mei Lanfang (梅兰芳), o maior cantor de Ópera Chinesa de Pequim, no seu percurso até ao estrelato...




2. The Curious Case of Benjamin Button

De David Fincher. Marcou o meu regresso ao cinema em Macau depois da experiência (de reacção sincronizada e ruidosa dos chineses na sala) no ciclo de cinema chinês no ano passado. Na sala, os chineses continuam ruidosos e sincronizados. Eu ainda não consigo ficar indiferente. Ainda penso que o encontro com o grande ecrã merece um pouco mais de respeito. Mas o filme é bom.




3. A vida dos outros (Das Leben den Anderen)

Filme alemão, de Florian Henckel von Donnersmarck. Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2007. Um filme que tinha ficado por ver. Provavelmente o melhor que vi ultimamente. Acção nos anos anteriores à queda do Muro de Berlim. O filme narra a experiência de um agente da Stasi, a polícia política da RDA, designado para um serviço de escutas clandestinas no apartamento de um casal pertencente à cena cultural de Berlim Oriental. Ao acompanhar a vida quotidiana do casal, Wiesler fica obcecado...




4. Once

Filme irlandês, de John Carney. O tema "Falling Slowly" ganhou o Óscar de Melhor Canção em 2008. Delicioso e simples, sobre um encontro improvável e a música que nasce de encontros improváveis.




Só alguns dos outros filmes que vi recentemente: uns bons, outros bons para o entretenimento, enroscada no sofá com chávenas de chá... e bolachas:

Michael Clayton, de Tony Gilroy
(com um Tom Wilkinson absolutamente genial)
The Other Boleyn Girl, de Justin Chadwick
(com uma Natalie Portman incrível)
Gracie, de Davis Guggenheim
The Great Debaters, de Denzel Washington
Juno, de Jason Reitman
Thank you for Smoking, de Jason Reitman
North Country, de Niki Caro
A Good Year, de Ridley Scott
The Good Shepherd, de Robert de Niro
Akeelah and the Bee, de Doug Atchison
Trade, de Marco Kreuzpaintner
Becoming Jane, de Julian Jarrold
Pride, de Sunu Gonera
The Savages, de Tamara Jenkins
Lars and the Real Girl, de Craig Gillespie
Margot at the Wedding, de Noah Baumbach

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Segunda dose de música chinesa: Indie Top

Agora que prepararam o ouvido

(a julgar pelo facto de o meu blogue ter uma considerável popularidade (constatação que fiz depois de instalar um contador de visitantes no dia 22 de Janeiro) e apesar de um terço das visitas serem provavelmente as minhas),

espero que estejam prontos para o CD inteiro... uma musiquinha de cada vez, vá lá, não exageremos.

Podem sempre ignorar-me.
(Talvez seja preciso desligar primeiro a música do post anterior.)

Indie Top:



Cada tema pertence a uma banda diferente.
Cada banda irá lançar entretanto um álbum com esta editora.