domingo, 29 de março de 2009

Lamentos de Dhafer Youssef



Afinal estou rendida às boas surpresas da cena cultural de Macau. Ontem vi e ouvi Dhafer Youssef e a sua banda, atraída pelo rótulo de "Jazz eléctrico". Afinal, não há rótulo possível... é mais jazzístico do que esperava, mais electrónico do que podia prever, mais groove e mais lounge, imprevisível e indefinível. Afinal, houve momentos arrepiantes no piano, lamentos árabes no alaúde, desvarios na bateria, a força discreta do estranho e magro contrabaixo, os sons primitivos na voz do próprio Dhafer... foi um grande concerto. Mas eu deixo a crítica para os especialistas, e duas amostras: acima, L'Ange Aveugle acompanhado de fotografias absolutamente fabulosas de Claude Renault; e 27th Century Ethos, um dos temas do mais recente álbum Divine Shadows, ontem apresentado no CCM.






Dhafer Youssef - "Sombras Divinas"

"Justapõe a música antiga, mística e hipnótica do Sufismo com as texturas do jazz eléctrico" - Time Out (RU)

O cantor e músico tunisino Dhafer Youssef é uma das figuras mais apelativas da "World Music", fazendo a ponte entre as tradições musicais arábicas e os novos horizontes da contemporaneidade. Nas suas mãos, as duas culturas fundem-se numa música espiritual e reflectiva, passional e estimulante, que vai certamente arrebatar os ouvintes mais maduros da "World Music".

Estando enraizada na música mística do Sufismo Islâmico, as composições de Dhafer Youssef vão beber a diferentes influências como o jazz, a electrónica, e o rock. Com uma personalidade vocal profundamente tocante, uma atitude séria ao oud (o alaúde árabe), composições de tonalidades arábicas encantadoras, devaneios eléctricos "lounge" e uma panóplia de sons de fusão, este músico tunisino figura entre as estrelas mais cintilantes deste céu de cruzamento de estilos.

A viver e a trabalhar na Europa desde 1990, Youssef cria música que tanto pode ser profunda como leve, complexa, "funky", dolorosamente romântica, por vezes sendo tudo isso numa só canção. O ritmo da sua música convida ao relaxamento, e é plena de atmosfera, de "groove", sentindo-se a qualidade do desempenho dos músicos, mas de uma forma raramente complacente consigo própria.

No projecto "Sombras Divinas" (Divine Shadows) através do uso dos elementos mais positivos do nu-jazz, Youssef e o seu parceiro, o guitarrista Elvin Aarset, criaram um som novo de uma tamanha beleza intemporal que podemos imaginá-la a ocorrer em qualquer dos últimos mil anos. É o som da humanidade que ecoa por todos nós, uma universalidade que mexe com algo escondido dentro de nós que desconhecíamos existir, e o que Youssef faz imbuir este som com uma relevância contemporânea, aproveitando o potencial libertador da tecnologia.

Página do Centro Cultural de Macau
Página oficial de Dhafer Youssef

sábado, 28 de março de 2009

Macau em dias soltos

~
Macau em dias soltos

Entre a cor e o cinzento, entre céus azuis e céus descorados;
entre o frenesi e as esperas,
entre as conversas de encher tempo e as decisões definitivas;
entre canseiras e momentos de esperança,
entre vazios de olhar e risos prontos;
no mofo das vielas escuras ou no néon dos prédios novos;
nas histórias sem contador, na iminência das resoluções eminentes;
nas casas sem dono e nos últimos feixes de luz, no fim da tarde;
na luminosidade vermelha difusa triste das lâmpadas dos mercados;
no tempo a pesar nos olhos apesar da pressa e do vagar...
Assim sinto os dias soltos de Macau.
~
散掉的日子
彩与灰的调子,蔚蓝与苍白之间;
犹如歇斯底里需要等待,
犹如打发时间的聊天迟迟拖着决定,
犹如一份厌倦偶尔闪过希望,
末了还是空洞的眼神,模式化的笑容;
昏暗的巷子吐着幽霉,高楼大厦舞动霓虹;
行走于无需计时器的历史消失于结束时的一瞬间,
空荡荡的房子挽留了午后最后一道光束,
红色光雾感染了街市灯盏的忧愁;
时间依旧忽紧忽慢,眼中承载了
心中散掉的日子
(Tradução/adaptação para chinês por Han Li Li)
~

domingo, 22 de março de 2009

Curtas-metragens nos intervalos: Historia de un Letrero

Não é um filme chinês e eu devia promover aqui a cultura chinesa, não é? Deixem-me hoje promover uma visão bonita e comovente, só para mostrar que as palavras às vezes valem mais do que cem imagens, em qualquer língua.



E outra vez, agora em versão publicitária:

quinta-feira, 19 de março de 2009

domingo, 15 de março de 2009

Tarde amarela: Old Ladies' House


Albergue amarelo

Tarde amarela
Amarelando pelas ruas com pressa, mas devagar,
Chegando rápido ao pátio amarelado onde queria chegar
Cheio de paredes empalidecidas pelos bichos, pela idade
Por primaveras esbatidas, verões de preguiça, outonos de saudade
Por tinta fresca agora invadida
Por hera verde, castanha e esmaecida
Por causa da luz que invade a casa, amarelecida,
Porque é dourada a sombra que a invade
Por ser amarela a tarde esquecida.
午後的橘黃
踏著不緊不慢的步伐
尋著巷子, 在夢中期待的庭院駐足
牆身的蒼白,歲月的蟲語
那是春的浮華,夏的慵懶,秋的思念
這一抹新色的闖入
驚動了已褪為褐色的常春籐
就連隨之而來的影子,也在陽光中熟透
那個被遺忘的午後
(Tradução para chinês por Han Li Li)

(na Old Ladies' House)


Hotel Lisboa