Afinal estou rendida às boas surpresas da cena cultural de Macau. Ontem vi e ouvi Dhafer Youssef e a sua banda, atraída pelo rótulo de "Jazz eléctrico". Afinal, não há rótulo possível... é mais jazzístico do que esperava, mais electrónico do que podia prever, mais groove e mais lounge, imprevisível e indefinível. Afinal, houve momentos arrepiantes no piano, lamentos árabes no alaúde, desvarios na bateria, a força discreta do estranho e magro contrabaixo, os sons primitivos na voz do próprio Dhafer... foi um grande concerto. Mas eu deixo a crítica para os especialistas, e duas amostras: acima, L'Ange Aveugle acompanhado de fotografias absolutamente fabulosas de Claude Renault; e 27th Century Ethos, um dos temas do mais recente álbum Divine Shadows, ontem apresentado no CCM.
Dhafer Youssef - "Sombras Divinas"
"Justapõe a música antiga, mística e hipnótica do Sufismo com as texturas do jazz eléctrico" - Time Out (RU)
O cantor e músico tunisino Dhafer Youssef é uma das figuras mais apelativas da "World Music", fazendo a ponte entre as tradições musicais arábicas e os novos horizontes da contemporaneidade. Nas suas mãos, as duas culturas fundem-se numa música espiritual e reflectiva, passional e estimulante, que vai certamente arrebatar os ouvintes mais maduros da "World Music".
Estando enraizada na música mística do Sufismo Islâmico, as composições de Dhafer Youssef vão beber a diferentes influências como o jazz, a electrónica, e o rock. Com uma personalidade vocal profundamente tocante, uma atitude séria ao oud (o alaúde árabe), composições de tonalidades arábicas encantadoras, devaneios eléctricos "lounge" e uma panóplia de sons de fusão, este músico tunisino figura entre as estrelas mais cintilantes deste céu de cruzamento de estilos.
A viver e a trabalhar na Europa desde 1990, Youssef cria música que tanto pode ser profunda como leve, complexa, "funky", dolorosamente romântica, por vezes sendo tudo isso numa só canção. O ritmo da sua música convida ao relaxamento, e é plena de atmosfera, de "groove", sentindo-se a qualidade do desempenho dos músicos, mas de uma forma raramente complacente consigo própria.
No projecto "Sombras Divinas" (Divine Shadows) através do uso dos elementos mais positivos do nu-jazz, Youssef e o seu parceiro, o guitarrista Elvin Aarset, criaram um som novo de uma tamanha beleza intemporal que podemos imaginá-la a ocorrer em qualquer dos últimos mil anos. É o som da humanidade que ecoa por todos nós, uma universalidade que mexe com algo escondido dentro de nós que desconhecíamos existir, e o que Youssef faz imbuir este som com uma relevância contemporânea, aproveitando o potencial libertador da tecnologia.
Página do Centro Cultural de Macau
Página oficial de Dhafer Youssef