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A caminho de Luang Prabang
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De Vientiane partimos de mota em direcção ao norte, com Luang Prabang como meta. O caminho é muito bonito, cheio de arrozais e aldeias à beira da estrada, e fiquei contente por poder percorrê-lo de mota em vez de outro transporte qualquer. Gozei a viagem e vi tudo o que havia para ver. Disse adeus a todas as crianças que corriam a acenar freneticamente, animadas pela passagem dos poucos veículos que quebram por uns segundos a rotina da aldeia... A rotina da aldeia parece igual em todas as aldeias: consiste no trabalho agrícola para os adultos e em brincadeiras sem fim para as crianças. Todas repetindo os mesmos rituais, as mulheres carregando os mesmos fardos e usando as mesmas roupas, as crianças brincando (sempre com os mesmos métodos criativos e felizes com que se brinca quando nunca ninguém nos comprou um brinquedo), as mesmas idas aos banhos colectivos, mais ou menos às mesmas horas, as mesmas preguiças no interior descoberto das casas de madeira, muitas vezes só com tecto e chão, sem paredes. Os mesmos gestos lânguidos - lânguidos pelo calor ou pelo cansaço ou pela tranquilidade de quem não tem compromissos nem urgências. A mesma entrega rendida ao fim do dia, já sem luz para o trabalho no campo, já sem horas para labutas. Os mesmos sorrisos conformados, que nem assim são menos autênticos ou menos quentes.
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Vi paisagens magníficas de montanha (que não fotografei porque ia em cima de uma mota), senti brisas frias alternadas com bafos quentes e apanhei chuvas repentinas (que não fotografei porque há coisas que se apalpam, respiram e cheiram mas não se materializam em filmes nem películas). Gostei muito do Laos. Antes de Luang Prabang, ainda pernoitámos em Vang Vieng (aqui encontram uma descrição bastante fiel da pequena cidade a meio caminho entre a capital e o nosso destino), local de que gostei muito e muito pouco... primeiro, porque tem uma combinação lindíssima de rio e montanhas que atrai muitos praticantes de desportos radicais (rappel, rafting) e, segundo, porque se tornou um local para onde viajam finalistas ruidosos, jovenzinhos e inconscientes. Por exemplo, o tubing é um desporto nada radical em que me enfiei dentro de um pneu e me deixei levar pela corrente ao longo de 6 km, debaixo de um céu fabuloso e protegida pelos montes altos e densos (não tenho fotografias porque estava enfiada num pneu dentro de água...); mas os jovenzinhos conseguem transformar uma actividade tão inocente e de comunhão com a natureza num concurso absurdo que consiste em beber uns copos em cada um dos vários bares com música alta espalhados ao longo do rio, para ver quem chega mais bêbedo ao ponto de chegada...
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Luang Prabang é uma cidade deliciosa. Muito acolhedora, cheia de charme, com lojinhas de tecidos e de artesanato local em todo o lado, com um mercado ordeiro e limpo, com cafés bem decorados e convidativos em todas as ruas, com livrarias cheias de estilo e lojas de mercado justo. Os templos são muito bonitos (a partir de uma certa altura, começo a ficar cansada de templos e já têm de ser espectaculares para me atrairem a atenção...) e converso com mais alguns monges, todos amantes de futebol e curiosos em relação à cultura ocidental, todos com um misto de atrevimento e timidez que os leva a aproximar-se mas não muito. Luang Prabang convida a tardes lentas, passeios sem pressa, visitas às lojas todas só porque sim. Mais uma vez, a serenidade vive nos olhos e nos sorrisos contentes, ou contentados, dos laocianos.
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A seguir, Malásia: Kuala Lumpur e Malaca
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O álbum completo da viagem ao Laos:
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